Antônio Júlio Marques Araújo, seu Julinho, cerca de 1,50 m de altura, vivia em um dos bairros mais pobres da periferia do município de Ilha Grande dos Morros da Mariana. Pai de oito filhos, tinha netos quase da mesma idade de sua filha mais nova. Vivia numa casa simples, coberta de palha, com paredes feitas de barro e troncos de carnaúba; o chão de areia.
Ganhava seu sustento como catador de caranguejos e pescador no Delta do Parnaíba. Também era meeiro na plantação de arroz e de feijão, pois o dinheiro da pesca não era suficiente para manter a família. Em casa não havia água encanada nem energia elétrica, pois não tinha condições de, regularmente, pagar essas contas. Usavam água da casa vizinha e luz de lamparina. Não possuíam sequer um fogão a gás ou um rádio.
Militante político tentava conscientizar e mobilizar seus colegas de trabalho, fato que, na época, o excluía de qualquer possibilidade de benefícios trazidos por meio da prefeitura. A administração local não escondia sua posição de desfavorecimento àqueles que não se curvavam frente a seu poder. O bairro onde morava não tinha calçamento e não havia perspectivas de melhoria da infraestrutura.
Os catadores de caranguejo acordam cedo, entre 2 e 4 horas da manhã, de acordo com a variação da maré. Caminham até as margens do rio Parnaíba, de onde remam até alcançar o delta. Um catador recolhe entre 28 e 80 caranguejos por dia, de acordo com a temporada. Os crustáceos são vendidos a atravessadores em cordas nas quais são presos quatro caranguejos.
Seu Julinho tentava influenciar seus colegas para a criação de uma associação a fim de venderem os caranguejos diretamente ao consumidor. Todavia esse tipo de mobilização popular sempre era desarticulado por terceiros.
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