Francisca Rodrigues dos Santos, alcunha: dona Chica Lera; quebradeira de coco babaçu. Vivia em uma casa modesta com cobertura de palha e paredes de pau-a-pique na zona rural do município de Esperantina, Piauí. Apesar de haver trabalhado duro sua vida inteira, nunca teve recursos para construir uma casa com telhado de barro.
O interior de sua morada é vazio, não tem móveis. Como muitas outras mulheres simples já foi espancada por seu marido. Segundo ela a violência doméstica foi uma das razões pelas quais a família não ter sido capaz de construir uma existência mais confortável. Em sua vida conjugal as brigas eram constantes. Muitas vezes teve que se esconder no mato para fugir das surras do companheiro embriagado. Grande parte do tempo esse se ausentava à procura de trabalho em outras regiões. Todavia, raramente trazia ou enviava dinheiro para a família.
Mulher de personalidade forte, dona Chica conseguiu libertar-se da submissão ao marido. Atuava nas Comunidades Eclesiais de Base, assim como no Sindicato dos Trabalhadores Rurais. O fato de haver aprendido a ler e a escrever, ainda que precariamente, possibilitou-lhe a atuação política e religiosa.
Dona Chica e sua família viviam em área de conflito de terras, posseiros a espera da reforma agrária para regularizar sua situação. Apesar das ameaças e das pressões políticas, ela não desistiu de sua luta e afirmava já haver passado por dias piores. Ocasiões nas quais ela e os filhos só dispunham do coco babaçu para se alimentarem. Aposentada contava com uma renda fixa e acredita poder receber o título da terra. Sua penosa luta, assim como a de outros trabalhadores e trabalhadoras rurais, proporcionou esperança na caminhada rumo a dias melhores.
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