Consulte aqui mais informações a respeito do intercâmbio de indígenas do vale do rio Guaporé com as famílias dos pesquisadores e com museus europeus.
Dra. Ana Vilacy Galúcio, linguista do Museu Goeldi, fez uma consulta ao povo Sakurabiat (Terra Indígena Rio Mequéns), 2017, a respeito das informações dos cadernos de campo.
Linguista do Museu Goeldi, Ana Vilacy Galúcio, em consulta com Olímpio Ferreira Sakurabiat e sua mãe Vicência Sakurabiat.
Em um e-mail para para Gleice Mere ela fez as seguintes considerações a respeito do reconhecimento das informações contidas no livro, relativas ao povo Sakurabiat (citados pelo pesquisador como Guaratégaya e Amniapé/ Mampiapé).
(…) tenho ótimas notícias!! Estava tentando organizar as informações. Resumindo o que consegui obter. (…) Foi ótimo ter levado as fotos, as pessoas adoraram ver e comentar, e até mesmo conhecer porque muitas coisas da cultura material, eles tinham ouvido falar pelos mais idosos, mas não tinham visto como eram na verdade. As duas pessoas mais velhas (Vicência e Samuel), que ainda tem condições boas de memória, e conseguem conversar, mesmo com dificuldades, conheciam praticamente TODO MUNDO, que foi citado no diário, das malocas Guaratégaya e Amniapé/ Mampiapé, e os filhos e sobrinhos mais novos (que hoje estão na faixa dos 50-60) conheciam essas pessoas de nome e sabiam as histórias de vida, porque os mais velhos contavam.
Tomás, Tapuaba, Paraíba, (citados por Snethlage) eram todos grandes pajés. O maior deles era o Tapuaba (…) Imagina a felicidade que foi quando viram a foto dele.
(…) Sobre os nomes das etnias/malocas, foi outra grande descoberta: Guaratégaya, é identificado por eles como sendo o subgrupo korategayat ou simplesmente Koratega, como eu já tinha lhe dito. Agora a descoberta mais impressionante, que estava na minha cara, mas não tinha visto ainda foi o nome da outra etnia/maloca Amniapé/ Mampiapé. Eu passei muito tempo, tentando fazer sentido do nome Amniapé, e não conseguia, não fazia sentido para mim, nem para eles. Eu já tinha perguntado anos atrás. Mas eu não tinha prestado atenção na alternativa do nome que sempre é dada Mampiapé. Então, esse é um subgrupo os MÃPI-APEYAT ou simplesmente Mãpi ape porque muitas vezes eles fazem referência ao grupo sem usar o coletivo -yat.
(…) Então, dos dois (sub)grupos do rio Mequéns visitados pelo Emil Snethlage: Korategayat (Guaratégaya) é o grupo a que pertence Carmelo, que foi o último grande pajé e cacique, e é pai do Olímpio, um dos meus principais colaboradores no estudo da língua; e o outro grupo Mãpi-apeyat (Mampiapé) é o grupo ao qual pertence Vicência, viúva do Carmelo e mãe do Olímpio. Não é fantástico!!??! Tenho isso gravado em vídeo.
Já o Samuel é também Korategayat, e das pessoas citadas pelo Emil Snethlage, se não me engano o Tomás era tio paterno dele, irmão do seu pai.
Eu fiz alguns vídeos com o Samuel, explicando essas relações, fiz outro vídeo com a Vicência e o Olímpio, em que também falam isso, e explicam um pouco os artefatos da cultura material, confirmando que era do jeito como estão nas fotos, as malocas deles.
Não cheguei a gravar a confirmação de palavras, mas verificamos e confere. Tem algumas diferenças, que podem ter sido tanto por mudanças, ou variação dialetal, ou por dificuldades do Emil de entender ou nossa dificuldade de interpretar a grafia que ele usou. Tenho outros vídeos com o Bonifácio, outro rapaz, que me descreveu na língua muitas das peças representadas nas fotografias.
(…) Estão todos muito entusiasmados e aguardando o livro traduzido para o português.
Dr. Adam Singerman, esteva presente na TI Rio Branco em 2016, época em que o filho do pesquisador Franz Caspar visitou essa Terra Indígena pela segunda vez.
Adam é linguista e desde 2013 documenta a língua indígena Tupari, falada por cerca de 350 pessoas, principalmente na TI Rio Branco – RO.
“É impressionante ver como os indígenas da TI Rio Branco se interessam pelas informações colhidas por pesquisadores estrangeiros durante a primeira metade do século XX. Apesar de não haver mais ninguém que tenha testemunhado a visita de Snethlage, muitos entendem que para resgatar a língua e a cultura indígenas, é preciso aproveitar as informações que o pesquisador coletou e registrou durante sua viagem científica.
Nos anos 1940 e 1950 o etnólogo suíço, Franz Caspar, visitou os Tupari e viveu vários meses entre eles em sua maloca. Em janeiro de 2016, tive a oportunidade de presenciar a segunda visita da família de Franz Caspar aos povos da TI Rio Branco. A primeira visita foi realizada em 2008. Eles receberam com entusiasmo a tradução da monografia para o português, financiada pela família do pesquisador – essa foi publicada, em alemão, nos anos 1970.
A tradução dos cadernos de campo de Emil Snethlage para o português será recebida com muito entusiasmo e gratidão pelos povos indígenas da região. O livro contribuirá para o fortalecimento da luta pela valorização e pelo respeito às línguas e às culturas indígenas brasileiras.”
Adam Roth Singerman, linguista pela Universidade de Chicago, afiliado à Área de Linguística do Museu Paraense Emílio Goeldi. E-mail: adamsingerman@uchicago.edu