Intercâmbio entre os índios Kanoê
Em 2008 e 2009 foi realizado um intercâmbio de três índios Kanoê da Terra Indígena (TI) Rio Branco e da TI Rio Guaporé na TI Omerê. A iniciativa foi de Gleice Mere com auxílio do antropólogo alemão, Dr. Andreas Schlothauer, que financiou com recursos próprios as duas viagens dos indígenas. A Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé, da Fundação Nacional do Índio (Funai) deu todo o suporte necessário para o intercâmbio.
Os índios Kanoê da TI Rio Branco e da TI Rio Guaporé, há anos, reivindicavam uma visita aos parentes do Omerê, de quem tanto ouviram falar, mas que nunca haviam conhecido pessoalmente. Em função desse desejo dos indígenas e da informação a respeito da existência de alguns objetos Kanoê depositados no Museu Etnográfico de Viena, Áustria, coletados pela pesquisadora Etta Becker Donner, surgiu a ideia da realização de um intercâmbio entre os Kanoê do Rio Branco, do Rio Guaporé e do Omerê.
A intenção da visita foi para que os Kanoê pudessem conhecer os traços culturais perdidos devido às circunstâncias de expropriação de seu território tradicional no início do século XX. Os índios Kanoê do Corumbiara permaneceram isolados até os anos 1990 e assim preservaram parte de seus costumes. Como preparação, quase dois anos antes da viagem ao Museu Etnográfico de Viena, os índios Kanoê realizaram o intercâmbio com os indígenas da Terra Indígena Omerê em cooperação com a Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé.
Índios Kanoê, Laércio Bacelar, Gleice Mere e colaborador da Funai.
O primeiro encontro durou 10 dias e o linguista Kanoê, Laércio Barcelar, pôde estar presente durante a visita, o que facilitou a comunicação, visto que Francisco Kanoê, o indígena mais velho, pouco falava Kanoê e os demais Kanoê falavam somente português. Durante o dia faziam artesanato e durante a noite tinham aula de Kanoê. Conversavam meio de gestos, com auxílio do linguista e de algumas expressões conhecidas por Francisco Kanoê.
Índios Kanoê com linguista Laércio Bacelar
Não se pode afirmar ao certo até que ponto os Kanoê do Omerê compreenderam o motivo da visita, visto que esses não falam português e a língua Kanoê foi pouco estudada. Além disso, eles têm uma visão de mundo diferente da sociedade não indígena. No entanto pôde-se observar a alegria do índio Kanoê isolado Purá. A princípio tímido, com a presença dos visitantes. Passou a se enfeitar com penas e roupas de buriti, como fazia antes, e dormiu todas as noites na sede do posto da Funai onde os demais Kanoê estavam hospedados. A mulher Kanoê, Txinamanty, dia a dia aparecia com mais frequência nas instalações da Funai, que tem somente funcionários homens. É clara a percepção de que Txinamanty sente falta de uma presença feminina. Por essa razão, no segundo encontro, realizado em 2009, vieram uma visitante mulher e uma criança.
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Purá e Rui Kanoê confecionando adereços de folha de buriti
Após o intercâmbio a família de José Augusto Kanoê foi capaz de realizar diversos tipos de artesanato da etnia Kanoê. Objetos da sua cultura tradicional foram doados à coleção do Museu Etnográfico de Viena, junto com os objetos colecionados nos anos 1960 por Etta Becker Donner.
Devido à constante falta de recursos e de infraestrutura de instituições brasileiras para o financiamento de projetos dessa natureza não foi possível confeccionar uma coleção de objetos para serem depositados, por exemplo, em um museu em Rondônia.
Índios Kanoê e o filme Corumbiara
Os índios Kanoê do rio Corumbiara passaram anos fugindo de perseguições de fazendeiros que ordenaram o massacre do seu povo após terem comprado a Gleba Corumbiara, que foi vendida pelo governo federal durante a ditadura militar. O filme Corumbiara, de Vincent Carelli é um documentário que foi concluído 20 anos após o seu início e relata o trabalho investigativo da busca pelos sobreviventes do massacre, entre os quais estavam Purá e Txinamanty. Mais informações sobre o filme aqui.
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Cena do documentário de Vincent Carelli
